És de Faro, és Farense!
Palavras retiradas do
Blog: "http://palavrasaoposte.wordpress.com/ ou Palavras ao Poste", palavras que se referem ao nosso clube, palavras de alguém que chegou viu e sentiu o que é o Farense em apenas 90m... e da sua presença na nossa cidade, algo que é fruto do nosso insistente trabalho junto de Faro durante estes anos de trevas que passamos, e o resultado é este, uma massa associativa fervorosa, apaixonante e fanática pelo clube da sua cidade. Orgulhemo-nos disso!
Paritlho com vocês estas palavras, espero que as sintam tanto como eu.
“És de Faro, és Farense”
Quem não gosta de futebol é do Belenenses, já costumava dizer-se. Toda a
rara criatura que fugisse ao código RGB do futebol português era
imediatamente catalogada de “pessoa que não liga ao futebol”. E não
deixava de ser verdade.
Falo em pretérito porque tenho uma leve sensação de que as coisas já não são bem assim. Uma esperança, pelo menos.
Neste caso, não é apenas uma questão de respeito por um dos clubes
históricos portugueses, que depois de um período turbulento está agora
de regresso ao convívio dos grandes. Para quem vive, trabalha ou estuda
na cidade de Lisboa, é de facto perceptível um significativo aumento no
número de adeptos do clube do restelo, sobretudo nas camadas mais
jovens. Nas escolas da capital, é já considerável o grupo de
adolescentes que torcem pelos azuis, a maior parte deles motivados por
um vínculo que se explica pela prática de uma modalidade desportiva no
clube lisboeta. Esta aposta e intenção da formação de Belém em criar uma
ligação precoce com os jovens da sua cidade é de resto uma estratégia
inteligente de revitalização do clube e que numa conjuntura de enormes
dificuldades financeiras, muito acentuada no Belenenses, é o único
caminho para que aos “velhos do restelo” se junte uma massa adepta
consistente e rejuvenescida capaz de consolidar a equipa na Primeira
Liga.
E que bom que é saber que existe vida para além do
planeta habitado por Porto, Benfica e Sporting. Num campeonato moribundo
e quase na totalidade reduzido a estas três equipas, é reconfortante
saber que esta minoria, apesar de marginal, está aqui para competir e
contradizer todos aqueles que nela não acreditam.
Temos o
exemplo, o mais flagrante de todos, do Vitória de Guimarães. Pessoas –
vimaranenses-, que vivem o clube e a cidade e estão dispostos a
defendê-los até à morte. Lutam e erguem a cabeça pelo local em que
nasceram, pela cidade que é sua, pelo escudo e pela bandeira do berço do
país que ostentam e do qual não abdicam. Homens e mulheres que não
vestem segundas peles e se mantêm fiéis a uma escolha de vida.
Virando o olhar para o sul do país, o que dizer do histórico Farense?
Recentemente ressuscitados do longo calvário que os manteve afastados da
alta roda do futebol português, os “Leões de Faro” são outro bom
exemplo de um amor futebolístico cultivado ao longo de anos e anos e
que, apesar das raízes e natureza humilde da sua história e dos muitos
problemas financeiros a que desde sempre se habituou, tem conseguido
resistir graças ao fervor dos seus adeptos e de uma cidade que esteve
sempre ligada ao futebol e ao seu clube.
Este é o exemplo de um
amor verdadeiro, genuíno e sem nenhum tipo de interesses. Um amor entre
uma parte disposta a dar tudo, e outra que nunca cobrou pelo apoio e
carinho demonstrado ao longo de 103 anos de história. Sucumbido às
distritais e salvo à última da hora do fecho de portas, o Farense andou
os últimos dez anos na penúria mas conseguiu reerguer-se e está de volta
ao futebol profissional. O obreiro do sucesso, o Presidente (que também
foi treinador e director desportivo nos últimos sete anos) António
Barão promete não ficar por aqui e cumprir o grande objectivo de
devolver o “maior clube do Algarve” ao escalão principal do futebol
nacional.
Mas como consegue um clube que andou “desaparecido”
durante uma década continuar a ser grande, continuar a ser histórico?
Através da sua força e dos seus adeptos, se forem verdadeiros. Apesar do
declínio do clube, o Farense nunca deixou de ser uma referência da
cidade de Faro. Andando pelas ruas da capital do Algarve, é possível
perceber a forte presença do clube. Sem dinheiro, sem resultados, mas
com o mais importante de tudo: o afecto dos seus fãs. Nos cafés, em
t-shirts, nas lojas e nas paredes da cidade, o logótipo patente um pouco
por todo o lado evidencia a influência da equipa.
E depois o
mítico Estádio de São Luís, palco de alguns dos jogos mais emblemáticos
da História da Liga Portuguesa. Um recinto com uma média de espectadores
capaz de envergonhar uns quantos clubes primodivisionários (14 mil
pessoas lotaram o recinto no jogo que garantiu a subida à segunda liga,
com a União de Leiria). No último Farense-Desportivo das Aves, um dos
últimos jogos da equipa a que tive oportunidade de assistir (4.ª jornada
da agora Liga Cabovisão), o ambiente vibrante vindo das bancadas foi
para mim exemplificativo da dimensão do clube e sobretudo do lado mais
puro do futebol. Imagino que à pergunta “porque é que és do Farense?” as
crianças e os jovens de 10, 14 e 18 anos que assistiam à partida não
saberiam responder. E esse é que é o encanto. O encanto de um clube
combalido, mas em recuperação, que representa uma cidade e uma região do
país também elas em deterioração. O apoio a um clube em sinal de
orgulho, de afirmação e confrontação com um país que insiste em diminuir
a parte mais a sul, mais esquecida, do seu território.
E
termino este texto com o resumo do que aqui procurei escrever: o futebol
português, apesar de condenado, tem na sua própria decadência salvação.
São estes velhos e históricos clubes que vão mantendo a pouca
integridade que ainda subsiste nos nossos campeonatos. E já agora a
alegria, a vivacidade e as características mais apaixonantes deste
desporto. “És de Faro, és Farense”, ponto final. A coragem é a de
assumir este compromisso, a de assumir esta “luta”. E com isso ser-se
autêntico.
3 comentários:
É como tu dizes, certas "merdinhas" sem grande importância que no futuro (que já é presente) começam a fazer efeito!! É com grande orgulho que vejo que todas as atitudes referidas no texto foram tomadas por nós "South Side Boys", desde paredes pintadas bandeiras em cafés e faixas na cidade e por aí fora!
Valter
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Tudo a seu tempo...
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