terça-feira, 17 de novembro de 2015

Mentalidade Bairrista em Portugal

Vagueando pelo mundo cibernético, deparo-me com um artigo de opinião " Mentalidade Bairrista em Portugal", da pagina futebolportugal no qual o nosso grupo é uma referência.
UM texto que aconselho a leitura!
"Falar do comum adepto do futebol português, é falar de alguém que apoia Benfica, Porto ou Sporting, é falar de alguém que em muitos casos reside bem longe do estádio do seu clube, e que devido a esse facto, normalmente vê o seu clube jogar através da televisão. Existe em Portugal uma clara falta de cultura de ir ao estádio, ora seja porque o seu clube não é o da “terra”, ou porque os dias e horários dos jogos não são os mais adequados, ou então porque os preços dos bilhetes são muitos elevados, entre outros fatores. Tudo isto leva a que em Portugal, a maioria dos estádios tenha médias de espectadores abaixo de muitos outros campeonatos europeus, inclusive campeonatos onde a qualidade do futebol praticado é mais baixa comparando com a qualidade do futebol português.
Muitas vezes ficamos espantados com o número de adeptos que clubes de outros países levam aos seus estádios, principalmente na Alemanha e em Inglaterra, sendo que também é preciso perceber que esses países vivem uma cultura bem diferente da nossa no que toca a futebol. É claro que nessas nações as pessoas têm mais poderio económico para poderem frequentar os estádios com frequência, é também claro que muitas vezes as partidas de futebol se realizam em dias e horários mais adequados, mas não é só isso que influência a grande adesão das populações a assistir a jogos de futebol nos estádios desses países. Em Inglaterra e na Alemanha, assim como noutros países, existe uma forte cultura de paixão pelos respetivos clubes locais, mesmo que esses clubes não lutem frequentemente por títulos importantes, o que leva a que os estádios tenham sempre muito público e grandes atmosferas, mesmo quando se trata de partidas que envolvem equipas que dentro do campo não estão a ter os resultados esperados.
Em Portugal, é também muito comum o adepto que até vai ao estádio apoiar o seu clube local, mas que no entanto em primeiro lugar é adepto de um dos chamados clubes grandes, algo que para os clubes de menor dimensão não é de todo suficiente, pois precisam de uma base forte neste aspeto, ou seja, uma massa associativa fiel que apoie incondicionalmente o respetivo clube. Contudo, existem adeptos do futebol em Portugal, que percebem isto, e que em muitos casos as suas paixões são olhadas com desconfiança, mas é claro de forma errada, pois estes em muitos casos dedicam uma boa parte da sua vida a um clube, que mesmo não sendo uma equipa vencedora, sentem um amor incondicional pelo seu emblema em qualquer circunstância, isto talvez seja aquilo a que devemos chamar de verdadeira cultura futebolística.
A anterior imagem mostra uma tarja com uma frase da claque afeta ao Farense “South Side Boys”, onde se pode ler “Sou de Faro Sou Farense”, algo bem simples mas com um grande significado, que neste caso mostra o caso específico do Farense, mas que no entanto pode ser aplicado a muitos outros casos, pois é um slogan de paixão e devoção de uma massa para com o clube da sua cidade, ou seja, como são de Faro são do Farense independentemente da situação do clube e da sua valia.
Falando do clube de Faro, este é uma instituição com história que passou recentemente por dias muito complicados, tendo começado quase do “zero” nos distritais, sendo que agora já compete novamente em divisões profissionais. O Farense vai dando que falar em escalões secundários pelas suas boas assistências ao nível de espectadores, mesmo quando estava a jogar na distrital, em que em toda esta caminhada atingiu grandes marcas a este nível, como por exemplo no jogo que ditou a sua subida ao segundo escalão, em que estavam cerca de 14 mil pessoas no Estádio São Luís a assistir a um decisivo Farense – Leiria. Faro é de facto uma cidade que foge um pouco à regra da generalidade do país, mas não é caso único.
Quando se fala de mentalidade bairrista e fervor pelo clube da cidade, é “obrigatório” falar de Guimarães, pois é aqui que mora o clube que mais gente arrasta aos estádios em Portugal a seguir a Benfica, Porto e Sporting. Independentemente da situação do clube, os adeptos do Vitória SC seguem a sua única paixão para todo o lado, sendo exemplo disso as épocas 2005/06 e 2006/07, que corresponderam a uma inesperada descida de divisão e a uma passagem pelo segundo escalão respetivamente, em que no entanto, o Vitória continuou a marcar a diferença nas bancadas, mantendo o seu lugar de “4º grande” das assistências, juntando também a isso inúmeras manifestações de apoio à sua equipa em momentos muito difíceis.
O Vitória pode contar sempre com o apoio da sua massa associativa, e quem conhece Guimarães sabe que é muito fácil encontrar famílias inteiras que seguem o clube para todo o lado, não tendo nenhuma simpatia por qualquer outro clube, isto falando claro dos três chamados grandes.
A seguir ao Vitória SC, o clube que mais gente leva aos estádios do nosso país, é nada mais nada menos que o Braga, curiosamente o grande rival da equipa de Guimarães. Com o seu claro crescimento nos últimos anos, o Braga também tem crescido nas bancadas, algo que muito se deve aos bons resultados e também a uma clara vontade da sua direção em unir a cidade com o clube, pois muitas são as iniciativas deste tipo desde que António Salvador assumiu a presidência do clube minhoto.
O Braga é um muito bom exemplo do papel que os clubes também devem ter para chamar a si as respetivas populações locais, pois apesar de ser difícil mudar as mentalidades de gerações mais maduras, uma aposta deste tipo pode incutir um espírito diferente nas gerações mais jovens, sendo que o Braga é um bom exemplo neste campo, em que certamente os jovens Bracarenses que desde cedo se vão habituando a ser simplesmente do Braga, no futuro, mesmo quando as coisas não correrem tão bem, permaneceram fiéis ao clube da sua cidade.
Em Setúbal mora o Vitória FC, um clube que pode ser chamado de “histórico adormecido”, e talvez seja essa a causa de a equipa de Setúbal já não ter a força da sua massa adepta como noutros tempos se viu. Apesar de tudo, Setúbal é também uma daquelas cidades onde se pode encontrar muita gente com uma paixão incondicional pelo clube local, no entanto a cidade sadina tem perdido ao longo dos tempos aquela cultura de ir frequentemente ao estádio, e desta feita o Vitória tem dificuldades em ter no Bonfim um grande número de espectadores na maioria dos jogos.
Contudo, pessoas como por exemplo aquelas que estão ligadas ao movimento ultra do clube, tentam voltar a levar os Setubalenses a apoiar o Vitória como era natural no passado, sendo que é necessário apostar claramente nas faixas etárias mais jovens, pois é aqui que se pode encontrar o futuro do Vitória no que ao “12º jogador” diz respeito.
Na zona centro, mais precisamente na cidade de Coimbra, encontra-se outro grande histórico do futebol nacional, a Académica, também conhecida como Briosa. A claque afeta à Briosa chama-se “Mancha Negra”, e esta é portadora de uma mística muito própria, assim como o clube de um modo geral, mas no entanto, grande parte da população de Coimbra, em muitos casos estudantes que não nasceram na cidade, não partilham do mesmo espírito bairrista. A Académica é um clube muito adorado tanto em Coimbra como em muitos outros pontos do país, só que a Briosa, dada a sua mística e a sua história, merecia se calhar algo mais, pois muitas dessas pessoas que simpatizam com a Académica não passam disso mesmo, de simpatizantes, e este clube é também um caso de uma instituição que merecia ser apoiada de forma fiel e apaixonada por um maior número de pessoas.
Contudo, aqueles que realmente sentem a Briosa, acompanham-na para todo o lado em qualquer circunstância, mesmo que dentro do terreno de jogo a Académica muitas vezes não tenha os resultados desejados como noutros tempos.
A anterior imagem mostra uma partida da temporada passada relativa ao Campeonato Nacional de Séniores, que colocou frente a frente Famalicão e Varzim no Estádio Municipal 22 de Junho, em Famalicão. Este foi um encontro que contou com cerca de 10 mil espectadores nas bancadas, quando estamos a falar do terceiro escalão do futebol português, algo verdadeiramente notável!
Mas não foi só neste jogo que Famalicão e Varzim arrastaram multidões ultimamente, pois estes dois clubes, agora a competirem ambos na Segunda Liga, são outro bom exemplo de uma mentalidade um pouco diferente do que é habitual, e que sem dúvida dão outro colorido aos estádios onde jogam devido à forte adesão dos seus adeptos.
Abordando a pouca adesão de público aos estádios portugueses, podemos falar dos estádios que foram construídos para a realização do Euro 2004, e um bom exemplo disso é o Estádio Municipal de Aveiro, onde desde 2003 até à poucos meses atrás jogava o Beira-Mar, um clube com pergaminhos futebol nacional, mas que viu a sua “casa” ser mudada para um estádio completamente fora do centro da sua cidade, resultando numa grande perda de ligação dos Aveirenses com o Beira-Mar.
Atualmente, o Beira-Mar compete nos distritais, isto devido a graves problemas financeiros que obrigaram o clube a sair do futebol profissional, e desde então que o clube Aveirense joga novamente no seu antigo estádio, onde vai registando assistências ao nível de espectadores verdadeiramente assinaláveis. Isto mostra de facto, que a população de Aveiro está de novo com a sua equipa neste momento tão difícil, e que sem dúvida que com o regresso à sua “antiga casa”, bem mais no centro da cidade de Aveiro, o Beira-Mar pode novamente contar com uma massa associativa coesa para ultrapassar esta terrível fase da sua história.
Com tudo isto, a ideia a reter, é que é vital apoiar o futebol local, sendo que o que está escrito no presente artigo não se trata de qualquer verdade absoluta mas apenas de uma mera opinião, em que este é um tema que pode gerar as mais diversas opiniões e discussões saudáveis sobre tudo o que envolve este tipo de questões. De relembrar ainda que outros clubes poderiam ter sido abordados ao falar neste tema, como por exemplo o Boavista, que é um exemplo de uma instituição que se reergueu muito pela força dos seus adeptos, assim como outros outros clubes poderiam ter sido referenciados."

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