quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Os Leões de Faro

Na realidade futebolística nacional, não é fácil encontrar noticias referentes ao nosso Farense, mas aqui e ali vão surgindo algumas crónicas que nos tocam e enchem de orgulho e nos lembram o quão grande é o nosso Farense. 
Vagueando pela net deparei-me com esta crónica em umrematecerteiro.blogspot.pt ,que é digna de partilha.

Esta semana no “Remate na Gaveta” revisitamos a temporada de 1994/95 e, mais precisamente, o clube que foi sensação nessa época, garantindo um inédito apuramento para as competições europeias. Falamos de um clube que é mais do que o símbolo de uma região, que marcou uma era no futebol português e que pretende voltar a fazê-lo nos próximos anos! Hoje recordamos e eternizamos o SC Farense!

Confesso que me dá imenso prazer falar deste clube, da grandeza da instituição e das suas gentes, do impacto que teve no futebol português especialmente nas décadas de 80 e 90, da coragem e força que o fez renascer depois de um período menos bom na sua história e que hoje lhe permite ambicionar voltar ao escalão principal do futebol português.

Para alcançar o estatuto de clube mais antigo e com maior historial do Algarve, o SC Farense teve de lutar muito, a maior parte das vezes em escalões inferiores. Foi assim desde a sua fundação a 01/04/1910 até 1970, ano em que o clube conseguiu, pela primeira vez, a presença na divisão máxima. De realçar que os Leões de Faro conseguiram ser campeões Segunda Divisão na temporada de 39/40, depois de vencerem a sua série (Zona Sul) e os play-offs (Campeões Nacionais), mas não conseguiram a promoção à Primeira Divisão uma vez que os campeonatos da altura eram restritos aos círculos de Lisboa e Porto, não permitindo a entrada de novos clubes (esta situação verificou-se até à temporada de 41/42). Depois de conseguidos alguns primeiros lugares na Zona Sul (não triunfando no play-off) e até da descida ao terceiro escalão, o SC Farense recarregou baterias e em apenas dois anos conseguiu a tão ambicionada subida à Primeira Divisão no ano de 1970!
Apesar da subida, o clube foi oscilando entre as duas maiores divisões do futebol português até que chegou a Faro um senhor espanhol de seu nome Francisco Fortes Calvo, Paco Fortes no mundo do futebol. Na temporada de 89/90 conseguiu a subida à Primeira Divisão e a altamente improvável presença na final da Taça de Portugal! O jogo, frente ao Estrela da Amadora, terminou empatado 1:1 após prolongamento, o que obrigou à realização de uma finalíssima que viria a perder por 2:0. Estava dado o tiro de partida para o melhor período da história deste grande clube. Nos 8 anos em que o catalão comandou a equipa, conseguiu excelentes resultados mas, acima de tudo, criou a imagem que eu e muitos outros adeptos têm do clube: aguerrido, lutador, com muita alma e muita paixão!

Jamais poderá ser esquecida a temporada de 94/95… É certo que nas temporadas anteriores o clube já tinha conseguido o sexto lugar (por duas vezes) e o oitavo lugar e começava a não ser surpresa para ninguém aquilo que os Leões de Faro iam conquistando, mas o acesso às competições europeias é um marco que nenhum adepto deste clube certamente se esquecerá!
Paco Fortes transformou jogadores em estrelas e construiu uma verdadeira constelação em torno de valores como a entrega, o sacrifício, o arrojo, a entrega, a paixão!

Peter Rufai tinha sido a grande contratação da época, guarda-redes internacional nigeriano, proveniente do campeonato holandês. Na defesa, Paixão, o brasileiro King, Miguel Serôdio e Jorge Soares foram os mais utilizados (Portela e o angolano Raúl como segundas opções) e todos eles contribuíram para que o SC Farense fosse uma das melhores defesas do campeonato nessa mesma época. No meio-campo não haviam dúvidas, o trio composto por Sérgio Duarte, Hugo e o marroquino Hajry davam todas as garantias de bom posicionamento, técnica, qualidade de passe e irreverência necessárias para a equipa chegar ao último terço do terreno e criar ocasiões de golo para os jogadores mais avançados. Na frente Tozé e Djukic iam ocupando a única vaga disponível, porque uma delas estava destinada a Helcinho e a de ponta-de-lança estava há muito (bem) entregue ao marroquino Hassan!
Da segurança que Rufai transmitia aos restantes jogadores, da solidez de todo o quarteto defensivo, da espontaneidade do jovem Hugo e da qualidade e experiência de Hajry, do instinto matador de Hassan… lembro-me de tudo! Era uma das minhas equipas favoritas da altura, uma das páginas da caderneta de cromos da Panini em que mais me empenhava para garantir que estava preenchida, que não faltava um! Era criança mas estes Leões de Faro não deixavam ninguém indiferentes…

Recordando aquilo que foi a temporada, convém destacar o facto de a equipa estar no preocupante 14º lugar no final da primeira volta, a apenas dois pontos de avanço dos lugares de despromoção! Era necessária uma grande segunda volta, com garra, com ambição, com querer… e foi precisamente isso que Paco Fortes conseguiu incutir no seio da equipa! Uma segunda volta com 11 vitórias, 2 empates e 4 derrotas é uma segunda volta de grandíssimo nível, não tenhamos a mínima dúvida!
Hassan foi um dos grandes heróis da equipa, marcando 21 golos e conquistando o título de melhor marcador da Primeira Liga! Mas, acima de tudo, prevaleceu o espírito de equipa, de solidariedade, de combatividade que reinava na equipa de Faro! Paco Fortes decidiu transformar o S. Luís num autêntico forte, em 17 jogos a equipa venceu por 13 vezes, empatou 1 e perdeu apenas 3 (frente a Sporting CP, Sp. Braga e FC Porto), conseguindo um goal average favorável de 29-9! Números incríveis! Foi desta forma que os Leões de Faro alcançaram a melhor posição de sempre, conseguindo o inédito apuramento para as competições europeias (viriam a perder na primeira eliminatória com o Lyon por um resultado agregado de 2:0)!


No entanto, a crise financeira com que o clube se deparou acabou por levar a que vários jogadores influentes na equipa rescindissem o contrato (ainda no final da época de 94/95, exemplos de Hugo, Raúl, Miguel Serôdio e Sérgio Duarte) ou saíssem para outros clubes (Hassan foi para o SL Benfica no final dessa época). Apesar de se ter mantido no escalão máximo do futebol português até 2001/02 (já sem Paco Fortes desde 1998), o clube tinha acabado de entrar num dos períodos mais negros da sua história, descendo de divisão durante 3 anos, consecutivamente, parando apenas na Terceira Divisão e, em 2005/06 foi mesmo desclassificada, após não ter conseguido inscrever a sua equipa no campeonato nesse ano.

A queda foi grande, mas a vontade de voltar a ser quem tinha sido era ainda maior! A equipa começou do zero, da Segunda Divisão Distrital e hoje milita na Segunda Liga! Os adeptos nunca a abandonaram, foram muitos os jogos nos escalões inferiores em que o S. Luís fazia inveja a muitas equipas da Primeira Liga em termos de assistências! A garra e a paixão dos farenses estão lá, nunca deixaram de estar e eu não tenho a mínima dúvida que essa força vai fazê-los voltar ao lugar onde deviam estar, ao convívio entre os grandes… porque o SC Farense é grande!

Obrigado Leões de Faro! Uma vez amados, para sempre recordados!



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