quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

" O Lider" - do outro lado da barricada...



Lendo um livro, “ O Lider” de Fernando Madureira “Macaco”, líder dos Super Dragões emprestado por um amigo meu, que relata as vivências ultras do Macaco… deparo-me nas primeiras páginas com um relato de uma deslocação dos S.D. a Faro no ano de 1994.
Sou invadido por velhas memórias deste ano que foi tão marcante na minha vida, fundação dos South Side, e deste jogo em questão, pois foi uma das páginas mais marcantes da nossa história.
“36 e a Bela Russa” assim se intitula a história e relata pormenorizadamente a transferta dos S.D. a Faro…muitas aventuras e desventuras muito semelhantes a quaisquer histórias de cada grupo.
Dentro dessas histórias ninguém poderá por em causa a legitimidade e veracidade das mesmas…excepto se formos intervenientes nelas, pois bem …eu foi um interveniente, estava do outro lado da barricada e vejo-me com a legitimidade de corrigir alguns factos.
Desde que tenho memória de mim próprio que existe um ódio de estimação aos Tripeiros, ódio esse anterior aos próprios S.S., algo que é do conhecimento de toda a gente e que ao mesmo tempo ninguém consegue explicar a origem do mesmo… vem de gerações antigas, nasceu, cresceu e manteve-se.
Mas para além desse ódio, devo assumir e reconhecer Fernando Madureira como o ultra e Líder que é, sei que esta opinião vai contra a opinião de muitos…mas é a minha opinião.
Constantemente vou ver vários jogos grandes, acompanho e sinto vários grupos por dentro, como que um curioso…um deles foi o Belenenses – Porto da época passada, estive no meio dos Super Dragões e reconheço que foi uma boa experiência e reconheço também que o Fernando Madureira é um Lider nato.
Mas voltando ao que interessa, “Os 36 e a Bela Russa”… é normal que quem escreva um livro puxe o “lume a sua sardinha”, mas tudo tem o seu limite… Farense – Porto de 94 foi um jogo cheio de histórias, foi o primeiro grande jogo dos South Side e ansiosamente esperávamos por ele.
Os South Side passavam por um bom momento, tinham perto de 500 elementos…e nesse dia muitos mais viajavam de todo o Algarve para se juntar aos S.S.
A concentração foi no sítio habitual, na Igreja Velha de S.Luís e desde cedo se começaram a juntar inúmeros ultras lá.
Assim como e descrito no livro, é um facto que os Super Dragões avançaram sobre a concentração dos South side aproveitando-se do factor surpresa e da confusão gerada pelo extintor, certo é também que rapidamente os South Side responderam com o ataque de tochas avançando para o corpo a corpo.
Foram longos minutos em que tudo valeu até a chegada da polícia e em que a “Russa dos 36” passou a ser por momentos a “Russa dos 200”, mas ao contrário do que o Fernando diz, os Super não furaram o cordão para voltar a enfrentar os S.S., mas apenas os virão como salvação.
Sim, mostraram coragem ao atacarem a concentração e mantiveram-se firmes durante os confrontos, mas aposto que não estariam a espera de tão numerosa presença dos S.S. que no primeiro ano ainda eram um pouco desconhecidos e de tão pronta resposta, mas verdade seja dita…malucos quanto baste, e ao darem pela realidade de situação furar o cerco para atarem 200ultras já organizados foi coisa que não fizeram.
Dentro do estádio, existem alguns confrontos com elementos dos S.S. que estavam no peão que se vêem obrigados a sair da bancada.
Enquanto na bancada S.S. ainda semi lotada e desfraldada a faixa “No Name Ala Dura”, e aqui eu vejo-me obrigado a intervir.
Já antes do nascimento dos S.S., Faro era possuidor de fortes grupos da Juve Leo e dos No Name, algo que mudou aquando do nascimento dos South Side Boys, mas desses tempos resultaram algumas amizades com elementos desses grupos que ainda hoje proliferam.
Amizades essas, que se resumiam a noites de copos e que se arrastaram para os grupos, mas sem que nunca tenha havido relações oficiais de amizades, apenas relações de respeito.
Nesse dia em concreto sabíamos da presença de vários elementos da Ala Dura dos No Name na nossa bancada, os quais foram recebidos de braços abertos, assim como o foram noutros jogos e assim como nos dias de hoje recebemos vários elementos de outros grupos que nos acompanham sempre que podem, aos quais deixo um forte abraço “ eles sabem quem são!”.
Os S.S. tinham total desconhecimento da presença de tal faixa na bancada e apenas por breves instantes esteve aberta na bancada, mas que foi prontamente retirada com a compreensão dos mesmos.
As equipas entram e os South Side tinham preparada uma enorme tochada e vários potes coreografia, uma monumental fumarada no S.Luis.
Bancada repleta, animação constante e uma derrota por 2-0.
Final de jogo. Enormes medidas de segurança esperavam os ultras depois do sucedido antes do jogo.
Os minutos passam e perto de 300ultras esperam por detrás do Topo Sul a saída dos Super, que se localizavam no peão. A medida de sua saída, começa o que considero que aconteceu em Faro, um verdadeiro motim!
Os South side fizeram uma carga, a polícia responde não deixando a aproximação aos S.D. e aqui começam graves confrontos que se desenrolaram por várias horas e várias artérias da cidade com vários focos de conflito, a cidade entrou em estado de sítio.
Acerca da carga dos S.D. quando se preparavam para sair da cidade, não sou ninguém para desmentir pois encontrava-me no extremo oposto desse acontecimento, mas terei as minhas dúvidas, pois o contingente policial em torno da sua saída era tremendo e duvido que vários ultras se conseguissem aproximar do autocarro para concretizar tal apedrejamento.
Para terminar, gostaria apenas de salientar que não quero tirar qualquer credibilidade ao Livro de Fernando Madureira que até acho que tenha o seu ponto de interesse, mas vi-me no direito de dar uma visão do outro lado da barricada!

DESDE SEMPRE…FARENSE…PARA SEMPRE!













"Os 36 e a bela Russa"

" Na época em que "os dragões partiam tudo", as deslocações aos campos adversários, raramente, acabavam sem confusão. Os Super Dragões estavam a começar a adquirir a força e as outras claques também não queriam ficar atrás.
Era o auge das picardias e das esperas, principalmente, com a claque do Benfica "No Name Boys".
O Farense - Porto, da época 1994/95, foi uma sexta-feira, a noite; por isso, saimos do Porto na quinta-feira, de madrugada: - uma viagem que ficou conhecido pelos "36 e a Bela Russa", ja que éramos trinta e seis homens e somente uma mulher.
Reservámos um autocarro ao senhor Albino, da Renex, dos Clérigos, mas, na hora de saida, o dinheiro não chegava para pagar o aluguer, que era cerca de cento e cinquenta contos. Se fôssemos cinquenta, a viagem ficava por cerca de três contos a cada um, mas como só tinhamos conseguido reunir trinta e sete elementos, o preço ficou muito superior. Para além disso, muitos nem seuqer tinha dinheiro e as finanças da claque, naquela altura , não tinham qualquer comparação com as de hoje. Foi um momento complicado, porque só tinhamos noventa contos e a camioneta não arrancava, enquanto não tivessemos o resto do dinheiro. Ao ver o nosso desespero, e como já eramos clientes habituais, o senhor Albino baixou o preço para cento e trinta contos. Mesmo assim ainda faltavam quarenta contos. Era preciso encontrar ums solução.
por volta da meia noite, lembrei-me de ir ter com um amigo, o Vitor do ouro, que morava na rua Escura.
-"Ó Vitor, podias dar-nos um patrociniozinho...íamos,agora, para Faro para apoiar o Porto e não temos dinheiro que chegue para o aluguer do autocarro.
Se não arranjarmos quarenta contos, ficámos em terra."
Mal acabei de falar, o Vitor olhou para mim, meteu a mão no bolso, e sacou o dinheiro. graças a ele, o autocarro partiu rumo a Faro.Adormeci.
por volta das 05h da manha, acordei estremunhado, sem perceber o que estava a acontecer. Tinhamos parado numa bomba de gasolina, no Alemtejo...Quando olho para fora do autocarro, só vejo entrar carregados de caixas de gelados. Tinham dado a rapadela geral a uma barraca de gelados. A camioneta arrancou, de imediato, e só parou em Faro, ás 09h da manhã.
Ficámos junto a ria e aproveitámos para apanhar uns banhos de sol...perto da hora do almoço, como estava tudo micho, andámos a ver o que é que podiamos arranjar para comer. Juntámos algumas coisas que alguns "desviaram" das prateleiras e fizemos um piquenique.
Da parte da tarde, fomos todos ao banho. Parecia que estavamos na Ribeira. Estava tudo calmo, quando passaram entretanto três gajos de caschecol dos No Name Boys. Foi tudo em cima deles!...Começaram a bater-lhes e até queriam manda-los ao rio...não consenti, porque era demais.

A tactica do extintor

Por volta das 17h30, disse ao motorista que íamos a pé para o estádio, porque fomos alertados para o facto dos No Name Boys, de Faro, poderem estar junto da claque do Farense, South Side Boys, à nossa espera. Era bulha pela certa!.
Lá fomos com as mochilas ás costas e ainda demorámos cerca de quarenta minutos. Ao lado do Estádio de São Luís, havia um parque com árvores, onde decorria uma feira, do género da de custóias, ou de Espinho. Era terreno propíco a uma emboscada e por isso, o grupo pegou em paus e pedras, de forma a estarmos prevenidos para qualquer eventualidade. Na altura, não tínhamos tochas, mas o sugla tinha roubado um extintor numa bomba de gasolina.
Chegámos ao estádio ás 18h30. Ainda faltavam duas para horas para o jogo. Damos, de caras, com quarenta gajos dos No Name Boys e dos South side Boys. Eles olham para nós, meios expectantes, porque não estavam a contar connosco ali e...gerou-se um impasse. A única hipótese de nos safarmos era atacar primeiro. Virei-me para o suga, mandei-o ir a frente com extintor, enquanto nós o seguiamos aramdos com perdas, paus e mais tarde os ferros dos guarda-sóis.
O suga abriu o extintor e ficou tudo branco. Aproveitámos e começamos a atacar. Eles contra-atacaram com tochas, acertando nos feirantes. Começou tudo a arder e nós todos á porrada, com as pessoas da feira a gritarem e a fugirem; de facto, não se via nada com o fumo. Foi uma tourada...até que chegou a polícia, que nos separou, isolando-nos com um cordão. Os tonos tinham fugido, mas, quando nos viram isolados, voltaram a juntar-se e armados em otários, preparando-se para nos atacar. nem pensámos duas vezes. Furámos o cordão da polícia e fomos para cima deles. A polícia só nos voltou a separar á bastonada, voltando-nos a isolar.
-"Como é que vocês vieram aqui parar. Vêm para o jogo e não nos dizem nada?"
-perguntou-me o comandante da polícia, surpreendido com aquela confusão e a querer saber onde é que ámos comprar os bilhetes.
-" Nós não temos bilhetes. E se quer um conselho, da forma como isto está, acho melhor que nos ponha lá dentro, sem bilhetes...e conforme eles estão vão andar aqui, vão andar aqui o resto da tarde e durante o jogo, a fazer asneiras, de outra forma não vão ter sossego."
Ele pôs-se a olhar para mim e disse-me para esperar uns minutos. Foi, entretanto, falar com outro elemento e veio com uma solução:
-"Esta resolvido.Vocês vão entrar de graça, mas é só desta vez...para não fazerem asneiras."
Lá fomos para dentro do estádio, de borla, duas horas antes do jogo. Ninguém tinha dinheiro e, por isso, acabámos por ficar a ganhar. Durante o jogo, ao lado da claque da claque dos Sout Side Boys estava uma faixa da Ala Dura dos "No Name Boys". Já não restavam dúvidas que eles estavam juntos.
Nem as duas claques juntas tiveram vida para nós. à saida, já com uma vitória por três Zero no "saco", os nossos "amigos" estavam de novo à nossa espera. Não lhes bastou terem levado no focinho, no início, e queriam mais!...Porém, a polícia não nos deixou sair, enquanto eles não dispersassem. Ficámos, cerca de uma hora e meia, dentro do estádio.
Entretanto, a camioneta chegou e entrámos, de imediato, à porta do estádio. Ao fundo, vejo cerca de 10/15 gajos preparados para foder a camioneta. pedi ao motorista para deixar a porta aberta por uns minutos, porque faltava um colega nosso. A polícia foi aos carros para nos escoltar até à saida de Faro, e aproveitando a distracção doa agentes, sáimos a correr em direcção a eles.
Quando nos viram, desapareceram como ratos. Foi a única forma de regressarmos ao Porto com a camioneta, sem um único risco. De outra Forma, podem ter a certeza que tinha sido apedrejada.

6 comentários:

Anónimo disse...

Para qualquer situação existem sempre dois lados...Muito se passou neste primeiro Farense-Porto e como tudo na vida, com o passar do tempo, certos pormenores perdem exactidão ajustando-se ao que se idealiza ter acontecido. O que sei e que nem muito queijo me fará esquecer, é que este jogo e toda a sua envolvência, representou um marco na história dos South Side iniciando uma postura que perdura até aos dias de hoje.E ao q parece tb foi marcante para os Super pois é com grande orgulho que nos vejo retratados logo nas primeiras páginas do referido livro. Falem bem ou falem mal...mas falem! Saudações SS.

Anónimo disse...

Esta resposta a verdade.Mais historias destas pedem-se.

Como dizes e bem em Faro ha respeito, nao misturas.

De um NN de Faro

F.

Anónimo disse...

Meus caros,


Como só venho aqui esporadicamente, nunca respondo aos comentários.

Já tinha lido esta breve passagem no livro do macaco e fartei-me de rir. Como diz o Paulo foi um jogo marcante e é dificil esquecermo-nos, daí querer deixar algumas notas, especialmente para ps mais novos:


1. A Russa chava-se Anabela. Era uma verdadeira "rameira" da Ribeira e ficou célebre em algumas das nossas fotomontagens. Até chegou a vir com os Panteras a um jogo a Faro, só para estar junto a nós..aahahahaha. Desafio o Galrito a descobrir uma!!

2. O macaco naquele tempo era como nós um miudo, pouco conhecido do mundo ultra e longe de ser o líder da curva portista. A grande figura da curva era o famoso CULT, um tipo com um grande carisma e uma das figuras mais emblemáticas das curvas.

3. Naquele jogo, fez-se a primeira delocação do núcleo da Fuzeta, recordo-me que fui esperá-los ao comboio.


4. Um dos 3 NN referidos era o editor da principal revista ultra em Portugal..." se eles soubessem"...

5. Foi colocado pela primeira vez a faixa SD Faro, junto aos Super.


6. Como os SS não tinham cachecois ainda, a bancada aquando das cachecoladas era tricolor, situação que mostrava ainda a nossa juventude.

7. As fotos da fumarada inicial correram as principais páginas de revistas ultras, tendo aparecido na Sup Mag ( França ) e na Super Hincha ( Espanha ).


Um abraço

António

Anónimo disse...

Grande crónica. parabéns
Orgulho Ultra, orgulho em ser português

cult disse...

nao era uma faixa eram duas ou tres ala dura e amadora eu tenho fotos disso e dos confrontos de varios lADOS VELHOS TEMPOS MAIS NAO DIGO SD86 VELHA GUARDA

Unknown disse...

No tempo que os dragoezinhos partiam tudo e onde tudo era mais dificel mas o amor ao clube superava tudo ... Maior claque do mundo velha guarda